Presidente da CEVAL em declarações ao ECO sobre o resultado das legislativas

O presidente da Ceval | Alto Minho e da ConfMinho em declarações ao ECO sobre as Eleições Legislativas 2022: “Estes resultados possibilitam políticas que proporcionam uma maior previsibilidade a nível fiscal, laboral e nas opções de aplicações dos fundos europeus.”Luis Ceia, Presidente da CEVAL – Confederação Empresarial do Alto Minho.

Empresários animam-se com novo Governo livre da extrema-esquerda

Sem as “amarras” do Bloco e PCP, as empresas contam ver Costa com ímpeto reformista e um programa para baixar impostos, estabilizar legislação laboral e subir incentivos ao investimento e inovação.

“Amaioria absoluta dá ao PS a oportunidade e a responsabilidade de executar um plano de reforço da competitividade da economia. Sendo eleitoralmente irrelevante, a extrema-esquerda deixa de poder travar o PS nas reformas de que o país precisa”. A declaração de Manuel Pinheiro, presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), resume o espírito da maioria dos empresários e gestores ouvidos pelo ECO na sequência da alteração do cenário político resultante das eleições de 30 de janeiro.

Nas legislativas antecipadas pelo chumbo da proposta de Orçamento do Estado para 2022 e consequente dissolução parlamentar decidida pelo Presidente da República, os socialistas recolheram 41,68% dos votos e, antes ainda de serem contabilizados os votos e os mandatos pelos círculos da emigração, asseguraram já uma maioria absoluta de 117 deputados num total de 230. O que significa que, ao fim de seis anos a chefiar o Executivo sujeito aos votos da oposição, sobretudo do Bloco de Esquerda e do PCP, António Costa pode implementar o programa do PS nos próximos quatro anos, sem precisa de fazer cedências à esquerda.

Ricardo Gonçalves Cerqueira, CEO da Euromex Facility Services, destaca precisamente que “o futuro Governo terá todas as condições para recentrar o modelo de governação, deixando de estar absolutamente dependente de BE e PCP, como até aqui”. Algo que, acredita o acionista deste grupo de Matosinhos, “pode permitir que António Costa aposte num modelo que privilegie o crescimento económico, com maior enfoque nas empresas e nas questões do aumento da produtividade e não apenas no aumento dos salários por via administrativa”.

Ricardo Gonçalves Cerqueira, CEO da Euromex Facility Services

Felipa Xara-Brasil também conta com um Governo com maior “autonomia na capacidade de tomada de decisão, apresentando propostas mais orientadas para os princípios do próprio partido [e] sem depender de decisões mais radicais, como outrora teve de fazer”. Para partner da Signium, estes resultados eleitorais, “embora sempre dependendo das decisões que sejam tomadas pelo Governo, deverão assegurar mais estabilidade na política económica interna e externa do país, assim como nas respetivas empresas”.

Preocupada com a necessidade de acelerar a recuperação económica para os níveis anteriores à pandemia, a responsável por esta consultora especializada nos temas da liderança e no recrutamento de executivos aconselha o novo Executivo, que deve ser formado na última semana de fevereiro, a sujeitar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) a uma “auditoria para garantir a eficácia e eficiência da sua aplicação”, devendo avançar logo que estejam cumpridos os prazos para a adjudicação das verbas às empresas e aos organismos da administração pública.

Felipa Xara-Brasil, partner da Signium

Em linha com a canadiana DBRS, que salienta que a maioria do PS garante “estabilidade legislativa” para a boa gestão dos fundos europeus, também a agência de notação financeira Moody’s considera que “ter um Governo maioritário é um bom presságio para a capacidade de o Governo português cumprir os marcos e metas do PRR, que foram acordados com a União Europeia como parte do programa Next Generation EU”. E para a Fitch, o resultado das eleições traz uma “redução da incerteza política, criando um cenário mais estável para a formulação e implementação de políticas”, esperando que a política orçamental “permaneça favorável à redução da dívida pública”.

Estabilizar a legislação laboral, reduzir a carga fiscal, conceber estímulos à inovação e implementar incentivos ao investimento. Para o porta-voz da metalurgia e metalomecânica, que é a indústria mais exportadora em Portugal, António Costa “passa a ter condições para dedicar mais atenção aos legítimos interesses das empresas”, por “deixar de depender de partidos radicais, que por natureza são hostis ao lucro e têm preconceitos contra as empresas”.

O facto de o PS deixar de depender de partidos radicais, que por natureza são hostis ao lucro e têm preconceitos contra as empresas, é por si só uma excelente notícia.Rafael Campos Pereira

Porta-voz da associação dos industriais de metalurgia e metalomecânica (AIMMAP)

No caderno de encargos apresentado por Rafael Campos Pereira, que integra também a comissão executiva da CIP, está a “redução estruturada” da carga fiscal (descida do IRS, do IRC e eliminação das tributações autónomas) e o “investimento conjugado na inovação e na qualificação dos recursos humanos”. Manuel Pinheiro, líder histórico da região dos vinhos verdes e que está de saída do cargo, acrescenta à lista “a reforma do Estado, introduzindo métodos de gestão mais eficientes e descentralizados, e a subcontratação em tudo o que não seja exercício de poderes públicos”.

concretização das Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial (PRR) e, através do Banco de Fomento, o reforço dos capitais próprios das empresas que se encontram “bastante depauperadas” depois destes dois anos de pandemia” devem ser também uma prioridade, defende Bernardino Meireles. Quanto ao resultado da ida às urnas, o dono da fábrica de eletrodomésticos localizada em Paredes não tem dúvidas de que “ficou claro que os portugueses privilegiaram um cenário de continuidade governativa, mas sem os constrangimentos de ter de negociar Orçamentos do Estado com partidos mais à esquerda”.

Pedro Rego, CEO da corretora de seguros F. Rego

Já o CEO da corretora de seguros F. Rego prefere esperar pela constituição do Governo para perceber se há “uma efetiva alteração de políticas ou uma manutenção das prioridades dos últimos seis anos”. Mas nesta fase de retoma, a expectativa de Pedro Rego é de que haja “uma clara priorização do crescimento económico, libertando as empresas da pesada carga fiscal e burocrática, permitindo a criação de emprego e a natural subida do salário médio”. “Prioridade ainda para as necessárias reformas estruturais permanentemente adiadas (…), esperando que existam condições para ‘acordos de regime’ que viabilizem as alterações de fundo de que o país necessita”, completa.Patrões querem que PS faça reformas e reforce diálogo social Ler Mais

Em teoria, nota Manuel Braga Lino, nos próximos anos será “dedicada um pouco mais de atenção” à atividade empresarial. Ainda assim, o administrador da Felino (Ermesinde) não espera “grandes modificações” na política económica e até reconhece, por exemplo, que a subida no salário mínimo “não parece estar a causar grandes danos no tecido empresarial”. O líder da fabricante de máquinas para padaria e pastelaria espera, por outro lado, que “a futura política se oriente para o que melhor nos pode ajudar a todos, que é a União Europeia, na defesa dos interesses europeus” na industrialização. Aí sim, “pode ser que [pelo] facto de deixar de haver influência de partidos de esquerda haja um incremento do relacionamento com a Europa”.

Plano de recuperação “legitimado” nas urnas

A governabilidade foi o tema que dominou toda a campanha eleitoral para as legislativas e era também a principal preocupação dos pequenos e médios empresários e dos líderes das associações setoriais ouvidos pelo ECO antes da votação do último domingo. Temendo um cenário de instabilidade, que era apontado como o mais provável, apelavam mesmo à negociação de uma solução política estável e duradoura para viabilizar a retoma e as reformas na economia.PME reclamam solução governativa estável no pós-eleições Ler Mais

Esse foi também o pedido da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) e, perante estes resultados, Alexandre Meireles considera que há “todas as condições para um governo estável e de quatro anos”. Quanto às prioridades para a legislatura, o presidente da ANJE elege a reforma do IRC para transformá-lo num “imposto que premeie as empresas que contribuam para a economia, que subam salários, que invistam na descarbonização”. Além disso, pede menos burocracia no acesso aos fundos do PRR e que no final do programa haja “a certeza de que foi um processo transparente e que contribuiu para reestruturar a economia portuguesa”.

Alexandre Meireles, presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE)ANJE

“A eleição com maioria absoluta simboliza a tão desejada estabilidade política. Depois de sucessivos anos de crise económica e social, Portugal não precisava de uma crise parlamentar. É com muito bons olhos que vejo a vitória incontestável do PS, que vai certamente reforçar as medidas já delineadas para a recuperação, com apoios desenhados à medida do país e que serão um motor de arranque para as empresas. O têxtil e vestuário precisam desta alavanca para se reposicionarem no mercado internacional, com a contrapartida de solidificarem Portugal enquanto economia emergente. Os resultados eleitorais vão reforçar a confiança depositada no nosso país e nas empresas nacionais. Por outro lado, são o reflexo de uma voz mais unânime e, por isso, mais forte”, corrobora César Araújo.

Depois de sucessivos anos de crise económica e social, Portugal não precisava de uma crise parlamentar. É com muito bons olhos que vejo a vitória incontestável do PS.César Araújo

Presidente da Calvelex e da associação do vestuário (ANIVEC)

O presidente da Calvelex, que tem fábricas em Lousada, Matosinhos e Vila Nova de Gaia, espera que os apoios deixem de ser direcionados apenas para as micro e PME e sejam reforçados para as “empresas com músculo e que podem competir ao lado dos melhores”, que empregam mais de 250 pessoas (mesmo que faturem menos de 50 milhões de euros). “O trabalhador não pode ser um fator negativo. É importante dirigir apoio a estas ‘locomotivas’ sociais que gerem dinâmicas nas regiões do interior, empregando centenas de milhares de pessoas”, argumenta o empresário que lidera a associação do setor do vestuário (ANIVEC) e que aconselha igualmente o novo Executivo a “premiar mais o trabalho em detrimento da subsidiodependência”.

José Martos, CEO da Saint-Gobain em Portugal

José Martos, CEO da Saint-Gobain em Portugal, diz ao ECO que a maioria absoluta “legitima o Governo a implementar o seu plano político” e elege a resiliência, transição climática e transição digital” como as prioridades económicas para a legislatura. O gestor do grupo de origem francesa que conta com mais de 600 empregados, 11 empresa e sete fábricas no país sublinha ainda que a “chave” está na execução do PRR com a garantia de que os investimentos são “realmente eficientes, rentáveis ​​e geram crescimento de longo prazo”.

Luís Roby, administrador do Grupo Érre

“António Costa não foi muito claro durante a campanha acerca do que realmente o separava dos seus parceiros de geringonça, esteve até mais ativo a apropriar-se das medidas tomadas e fazendo de todas elas uma bandeira, pelo que é difícil prever com exatidão o que irá mudar. Contudo, penso ser claro que a famosa bazuca irá ser disparada com violência eminentemente para o setor público, sobrando pequenos cartuchos para as empresas portuguesas e o desenvolvimento económico estratégico”, lamenta Luís Roby. O administrador do Grupo Érre (Braga) aconselha ainda o próximo ministro da Economia a aplicar os apoios para a melhoria da capacidade produtiva das empresas “de uma forma estruturada com os territórios onde se inserem”.

Estes resultados possibilitam políticas que proporcionam uma maior previsibilidade a nível fiscal, laboral e nas opções de aplicações dos fundos europeus.Luís Ceia

Presidente da CEVAL – Confederação Empresarial do Alto Minho

Mais confiante está Luís Ceia, presidente da CEVAL – Confederação Empresarial do Alto Minho e da CONFMINHO – Confederação Empresarial da Região do Minho, para quem “a maioria absoluta trará incontestavelmente um período de estabilidade política e social que permitirá o início da recuperação e reativação económica e empresarial”. “Estes resultados possibilitam políticas que proporcionam uma maior previsibilidade a nível fiscal, laboral e nas opções de aplicações dos fundos europeus. Isto induzirá um clima de confiança tão necessário ao investimento e à competitividade das empresas. Este cenário pressupõe um início efetivo da governação mais célere, o que beneficia a tomada de decisões sobre matérias de resposta urgente“, conclui o dirigente associativo minhoto, pedindo ao Governo para assumir uma “posição dialogante” com os parceiros sociais em sede de concertação social.