Presidente da CEVAL em entrevista ao Jornal Vida Económica

O Presidente da CEVAL, Luís Ceia, deu uma entrevista na passada semana ao Jornal Vida Económica. Aqui deixamos este testemunho:

“Nos últimos anos, a região do Alto Minho posicionou-se como um local privilegiado para albergar fabricantes de componentes automóveis que tem como destino da sua produção a fábrica de Vigo do grupo PSA” – afirma Luís Ceia. O presidente da CEVAL –
Confederação Empresarial do Alto Minho considera que o crescimento e emprego estão agora fortemente ameaçados pelos efeitos da
pandemia e pelos reflexos negativos sobre a indústria automóvel. Em entrevista à “Vida Económica”, recorda que as fronteiras da região representam 47% do tráfego rodoviário total entre Portugal e Espanha. O encerramento das fronteiras coloca em causa a sobrevivência de um elevado número de empresas.

– Como avalia os efeitos da crise do Covid-19 na região?

O impacto do COVID-19 no Alto Minho, tal como no resto do país, ainda é difícil de avaliar com a precisão que se deseja face à incerteza que ainda permanece sobre o comportamento da pandemia.

E, nesta região transfronteiriça essa imprevisibilidade é por ventura mais acentuada dada a forte relação económica com a Galiza. Somos a região fronteiriça do país que regista o maior movimento diário de veículos ligeiros.  Nas 5 fronteiras que ligam o Alto Minho à Galiza passam  31.190 veículos por dia, o que corresponde a 47% do total global de veículos que todos os dias cruzam as fronteiras entre Portugal e Espanha. Esta região, neste aspeto, não tem paralelo com a restante realidade transfronteiriça nacional. É com muita mágoa, que até agora, passados sucessivos governos, não tenhamos visto esta importância reconhecida, o que beneficiaria muito a região, assim como o país.

A nossa economia, particularmente nas regiões mais raianas, está muito dependente dos visitantes galegos. Setores como o comércio, a restauração e a hotelaria estão fortemente dependentes da reabertura das fronteiras. O recente inquérito sobre “A reativação da Economia nas Regiões de Fronteira do Alto Minho”, promovido pela CEVAL junto do setor comercial, revela que para cerca 40% dos inquiridos, as compras dos turistas/visitantes galegos representa mais de 80% das suas vendas totais. São dados reveladores de uma relação umbilical de muitos anos.

– Existe uma grande dependência do setor automóvel?

Nos últimos anos a região, posicionou-se como um local privilegiado para albergar fabricantes de componentes automóveis que tem como destino da sua produção a fábrica de Vigo do grupo PSA. Esta unidade, depois de em 2019 ter produzido 400 000 veículos, preparava-se para este ano atingir a cifra record de 600 000 veículos. Como se depreende esta dependência é enorme, com um impacto enorme particularmente no emprego. A região antes da pandemia, registava das taxas de desemprego baixas do pais, podendo falar-se inclusive de desemprego técnico.

Para se ter uma ideia desta importância, nos últimos anos, 9 dos 10 maiores investimentos em fábricas cuja produção está essencialmente orientada para Vigo, foram feitos no Norte de Portugal, sendo a maioria no Alto Minho.

– Que ações a Ceval está a promover para relançar a economia?

A CEVAL, junto com as associações que a compõem, tem procurado estar próximo das empresas e das pessoas, ouvindo, esclarecendo, apoiando, no sentido de poder tornar mais universal e simplificado o acesso às medidas de apoio lançadas pelo governo. Todo este trabalho tem sido feito em estreita colaboração com outras entidades, onde destacaria a CIP e a AEP.

 Estamos também a preparar em conjunto com as empresas e entidades locais um plano para a revitalização da economia transfronteiriça.

– Que balanço faz das linhas de financiamento e do regime de lay-off simplificado?

O balanço na sua generalidade é positivo. O lay-off é um instrumento que tem sido crucial e que deverá, na nossa opinião, ser prolongado para alem dos limites preestabelecidos.

Importa no entanto, acelerar os pagamentos às empresas de todas as entidades públicas,  o Estado deve ser referência no  cumprimento das suas obrigações com terceiros.

– A recuperação da crise depende da criação de novos incentivos ao investimento e à criação de emprego?

Mais do que a criação de emprego, neste momento é importante reter aquele que existia, dai a importância de alargar o espaço temporal da aplicação do Lay-off.

A recuperação de empresas que iniciaram processos de insolvência devido aos efeitos da pandemia deve ser uma prioridade.

Sempre dissemos que muitas vezes mais do que apoiar o surgimento de novas empresa, o que é salutar, mais importante seria a manutenção/reforço das que já deram provas. Hoje, mais do que nunca, essa deve ser uma orientação prioritária.

– É desejável reforçar a cooperação entre as empresas e o Ensino superior e apostar no aumento da qualificação dos quadros das empresas?

A pandemia veio acelerar o futuro. Por exemplo, o teletrabalho exige competências diferentes, por ventura de maior qualificação, que o tornem não um desenrasque, mas sim uma alternativa válida ao aumento da produtividade.

Esta cooperação tem de ser palavra de ordem, hoje não é possível existirem empresas competitivas sem Ensino Superior interveniente, assim como o Ensino superior só será de qualidade se for feito com e para as empresas.